Reverso da saudade (Homenagem à Neusa Santos Souza – Czar
D’alma)
Reverso da saudade
Jamais deixou no chão
A toada da esperança
Rogando pelo sertão
Num sonho de criança.
Perfeitos caminhos sujos sozinhos
Arrolados pelos pés no bolso ainda os réis.
Que sonha com furor a vã cidade
Onde o verso rouba tempo, caridade.
Mas ali desemborca tais canoas
Nos assombros príncipes e princesas negras
Vão adornar o continente, salvar do repúdio eloquente
A tão desalmada corrente e algema, do banzo grito dissolvente.
Vão-se anos, retoma-se os lírios
Porque do fio e a tez vem o brilho.
Aquela canção ficou florida em danças de amor
Deu de mão, o que sem mão alguém lhe furtou.
A vida que segue um rio.
Vem um índio sem seca, nem terra...
A pátria adormece e acorda viril
Alguns lhe chamam de pau-brasil.
Os reis despertam e outras pernas.
Da senzala e morros nascem intelectuais
Cansados recriam danças e carnavais
Já são cidadãos têm suas próprias festas.
São canções, desfiles, braços de campeões.
Tornando-se negro a Neusa Santos dissecou
As bandeiras que quase não mentem suas nações.
Hoje ainda somos a renda que da favela desceu e brotou.
Mas seremos mais, teremos paz
Desejo um sorriso que no sertão pousou...
Meu coração de homem não ouvirá mais
A mãe-mulher que de violência se vestiu ou clamou.
Seja a paz entre todas as pessoas
Sejam aquelas duendes, outras boas.
Quase todas com sangue, veia e tez
A nação se iluminou e enfim,
o preto tem vez!
"Reverso da saudade"
(Homenagem à Neusa Santos Souza – Czar
D’alma)
( BA 1948 * - RJ 2008 +)
Foi uma psiquiatra, psicanalista e escritora brasileira. Sua obra é referência sobre os aspectos sociológicos e psicanalíticos da negritude. inaugurando o debate contemporâneo e analítico sobre o racismo no Brasil.