Eu sou...
O Eros, Ego, Édipo
Quando não consegue
De tanta dor, soluçar!
O fantasma da ópera e a ópera do malandro
A lembrança da namorada na trincheira
O sapateado de Fred Astaire
E o vestido da mulher-rendeira.
Sou o prato da santa ceia
A pedra na cara de Golias
A Harpa de Davi
O êxtase da virgem Maria.
A coluna abraçada com Sansão
O desejo encabeçado em Dalila
Sou dos Amonitas
A contramão!
O buquê de flores em Hiroshima
O golpe mortal de Bruce Lee
E a lágrima saudosa
Da romântica menina!
Sou de Hitler a disritmia
A suave esperança do gueto de Varsóvia
A amante de Guevara
A filha estuprada de Fidel
O tesão da beleza americana
O combustível golfo Pérsico
Meia-noite sem dormir, Vietnã!
Em Tróia Fui a Beleza de Helena
Do Vaticano a musa do castiçal...
De Sartre era ausência
A lágrima de Nietzsche em clemência
Nos ritos eu criara o ritmo
E no direito, sempre o tribunal!
Nas olimpíadas sou a perseverança
Entre tribos, índios e pajés...
Sou o colorido do folclore
E quando todos reunidos, sou a dança!
Eu sou, eu sou, eu sou!
No Amor eu sou o beijo
Do beijo eu sou a língua
A tristeza da capela Cistina
No reino Unido, o Coringa da rainha.
Eu sou o sonho de Antônio Conselheiro
Nas florestas tropicais eu sou a gama
E o sorriso brasileiro.
Na psicanálise sou Morfeu
Do dogma oriental eu sou Hebreu.
A champagne das bodas do cordeiro
Então sentei e descansei...
Vi os poderes plenos, fiz balanço
Em Karl Marx sou da barba, sua trança.
Adam Smith recorreu de mim a balança...
Eu sou o dialeto das línguas
Dos poetas sou revés e não a rima
A enxada na mão do coveiro
A carpideira espera por mim o ter dinheiro
Eu sou a flagrância dos casais
Eu sou dos pobres o descanso
Entre ricos e navios negreiros
Sou as correntes, sou o banzo
Eu sou, eu sou, eu sou...
Sou Odara dos historiadores
Eu sou dos estetas os horrores
Eu me vi em todos os lugares
Sou da fúria dos Titãs, Oásis!
Da burguesia não aceitei escambo
Sou dos miseráveis a sorte
Do glamour o tiro pela culatra
A Voz que almejava o rei e o Sinatra.
Eu sou a palavra forte
Sou a alegria
Da tournée dos Stones
A melancolia inacabada
Em Nelson Rodrigues.
A audaz macia voz
Gritando os Beatles!
Na suíte de Elton John...
O beijo de Yoko Ono de bom!
Ah, eu sou o eco de Roger Water
Sou do mar, Fernão Capelo Gaivota
A mãe, o irmão, o filho e o pai
Sou o que, Sun Tzu não nota!
Ah eu sou a MPB, o blues e o jazz
Sou o balé e o método de circo
Sou o sapateado e dança de salão
A idade que nunca volta
Sou a dama que Sócrates pediu a mão
Engraxando meus sapatos lá esta Platão
Ah eu sou o bolero da nação...
Eu sou , eu sou, eu sou
A morte!
Czar D’alma – Escritor e poeta.